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um doutrinador, parte 3

  • relatospoeasia
  • 26 de jun. de 2019
  • 2 min de leitura

E , em mais um dia, ele acorda com o mesmo sabor na boca que todas as outras manhãs, ressaca, vazio e auto rancor.


Como é que pode, sem nem mesmo ter se levantado ainda, já se saber que o dia vai ser uma eterna enrolação para finalmente poder se deitar de novo?


Mas movido pela obrigação de ter que levantar e ir trabalhar, porque é isso que se espera dele, ele se arrasta para um banho que não limpa a sujeira que mais o adoece, a crosta da canseira.


Nem tanto a canseira física, mesmo trabalhando 60h semanais, o que mais o abate é o desgaste psicológico. 20 anos como professor. Não se enganem em pensar que é por frustração ou porque não ama o que faz. É justamente por acreditar e amar que ele sofre, que ele desiste sem desistir, que ele se arrasta e arrasta junto todo um conjunto complexo de sentimentos que o tiram da cama e ao mesmo tempo o tencionam a ficar nela.


Como sempre fazia, seu café da manhã foi só café. Um vício que além de o ajudar a acordar, cortava a sensação do seu rotineiro hábito de beber um bocado de algo alcoólico antes de dormir.


Na ida para a escola, no mesmo carro de sempre, pela mesma rua de sempre, ele não sentia nada. Via seu caminho como um filme monótono feito por outros e para outros.


Na escola, ao entrar na primeira turma da manhã, ao começar suas primeiras explicações, ao olhar para a turma que está na frente dele, ao fazer o que ele faz sempre, ele lembra porque levanta todos os dias da cama... Autor: André Bertuzzi Data: 26|06|2019

Imagem: filme Sociedade dos poetas mortos, 1989

 
 
 

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