top of page

Vento Ateu

  • relatospoeasia
  • 12 de abr. de 2020
  • 1 min de leitura

Esta é a história de Jailton Gana, Matador.

Jailton matava por dinheiro.

Ele matava porque era bom nisso.

Coisas diferentes aconteciam naquele tempo.

Mesmo que tenha sido ontem, era um outro mundo.

Todos conheciam Jailton pelo impecável trabalho.

Morrer pelas mãos de Jailton era quase uma honra.

Era como ser pintado por um artista.

Não que alguém tivesse pago para que ele o matasse.

Ele não aceitaria o serviço.

Uma vez viram Jailton escovando os dentes de uma vítima recente.

Curioso era imaginar que alguns tinham tido uma morte mais limpa que a vida.

Jailton dizia com pesar que vivíamos para morrer.

A morte era o sentido da vida.

Todos ouviam o que ele dizia porque ele era um homem sábio.

Quando eu era criança, Jailton já era velho.

Quando Jailton morreu ele me parecia mais novo que eu.

Ele sempre teve nomes: o Boa Morte, o Pisa Leve, o Inevitável.

Mas um que nunca entendi foi o Vento Ateu.

Ele era religioso.

Acho que ele respeitava a morte mais do que qualquer outro vivo.

Foi morto por alguém não tão bom quanto ele.

Todos souberam de imediato do acontecido.

Não porque a notícia correu rápido.

Mas pelo silêncio que o vento trazia carregado de sujeira.

Todos foram no enterro.

Teve mais gente do que no do Governador.

As palavras do Padre foram pequenas.

Jailton teria se aborrecido.

A morte era um momento glorioso para ele.

No fim Jailton morreu sujo.

Hoje lembram dele como lenda.

Quando alguém morre todos pensam que poderia ter sido melhor.

Queria ter Jailton vivo.

Morrer não daria tanto medo. 12|04|2020


 
 
 

Comments


©2021 por relatospoeasia. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page